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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LINGUAGEM- CULTURA CUIABANA

(Enviado por Deivisson Santos)
 
O Texto a seguir foi retirado do blog jornalístico "Fala Sério Mix"

O linguajar cuiabano é digoreste por VIVIANE PETROLI

"Com o passar dos anos, diferentes culturas vieram para a capital mato-grossense junto com seus emigrantes de outros Estados e uma delas é o linguajar, que aos poucos vem se misturando com o de Cuiabá.

"Siminino, Nhá cá chás criança, tchapa e cruz, vôte, demás de quente" são algumas das poucas palavras que até hoje escutamos pelas ruas de Cuiabá, independente se seja na região central ou ribeirinha da cidade.

Segundo o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Cultura, Móises Martins, o linguajar cuiabano está quase que desaparecido, mas ele prefere dizer que está modificado.
Essa modificação no modo do cuiabano falar, se deve mais precisamente pelo processo migratório que a capital sofreu com a vinda dos paulistas, gaúchos, paranaenses, nordestinos, capixabas entre outros. “A migração ocorreu devido ao verdadeiro ‘El Dourado’ divulgado que era Mato Grosso”, explica Móises.

Motivos
Móises Martins também diz que há dois momentos que ajudaram para o fato de Cuiabá estar perdendo o seu modo de falar. Um deles é a enchente que ocorreu em 1974 e o outro é o processo de expansão da cidade. “Cuiabá é o refulgir de dois momentos. Primeiro a enchente de 1974 quando a cidade era totalmente ribeirinha, onde estava o reduto da cultura da capital. Com isso os ribeirinhos se expandiram pela cidade formando novos bairros. O segundo momento é quando Cuiabá passou pelo processo de expansão urbana, no qual o único bairro planejado foi o do CPA.”, diz.

Cidade modificada

Cuiabá antigamente tinha características coloniais que ajudavam a manter viva sua cultura e linguajar. Conforme o passar dos anos, a cidade foi se transformando, prédios foram surgindo e casarões foram sendo derrubados.

“Outro olhar sobre a cidade foi um fator que levou à modificação do nosso linguajar cuiabano. Hoje não se sabe distinguir se Cuiabá ainda é uma cidade colonial ou uma cidade moderna. Podemos ver prédios de vinte andares sem garagem, por exemplo, não ter garagem é coisa de antigamente”, conta Moises que ainda lembra o surgimento das Universidades que cada vez mais trazem estudantes de fora.
Revendo e Reciclando a cultura cuiabanaMoises Martins, recentemente, para trazer de volta a história de Cuiabá, lançou a segunda edição do seu livro “Revendo e Reciclando a cultura cuiabana”, onde aborda diversos temas sobre a cidade como a criação, o porquê do nome, divisão do Estado e um amplo glossário de aproximadamente mil palavras do linguajar cuiabano.

Mas a quem acredite que esteja mais vivo do que nunca
Para Pedro Rocha Jucá, autor do recém concluído livro virtual ‘Da linguagem cuiabana’, o linguajar cuiabano está mais vivo do que nunca. “Vejo o linguajar por outro ângulo. Ele está mais vivo do que se pensa. Durante o seu processamento, ao longo de séculos, ninguém percebeu que se construía uma linguagem própria, que ficou cristalizada no passado, na sua origem”.
Ele ainda diz que “quando houve o confronto mais próximo e mais amplo com o português culto, alguns preferiram não usar a linguagem ‘carregada’ do cotidiano. Depois, veio a expressão mais forte do costume, uma espécie de afirmação como identidade histórica de um povo que aprendeu a viver sozinho no isolamento geográfico”.


Segundo Pedro o linguajar cuiabano ou linguagem cuiabana, como prefere dizer, continua tendo forças e cada vez maior, pois diz que nos últimos trinta anos foi alvo de pesquisa e estudos que mostram a sua importância para a língua portuguesa. “Os Lusíadas, de Camões, estava nas bibliotecas particulares de Cuiabá e foram encontrados rabiscos dele em paredes, com uma manifestação de saudades das raízes portuguesas. A linguagem cuiabana nunca deve ser motivo para críticas, pois quem a ouve hoje é um privilegiado, sentindo a manifestação de séculos e da soma de ricos valores dos portugueses, dos índios e dos negros”.

Da linguagem cuiabana
Nascido em Crato, no Cariri berço do povoamento da Capitania do Ceará que foi criado antes mesmo da Capitania do Mato Grosso, Pedro Rocha Jucá acaba de concluir seu livro virtual sobre o linguajar cuiabano. Ele diz que as origens do modo que se fala aqui e em sua terra natal são semelhantes. “Nas minhas pesquisas, encontrei um alto índice de palavras semelhantes ainda em uso nos atuais Estados. Mas aqui em Mato Grosso, o isolamento geográfico produziu uma riqueza tão valiosa quanto ao ouro, ao diamante, às pedras preciosas: uma linguagem que desafia os séculos. As minas se esgotam, mas a riqueza cultural de um povo é enriquecida de geração em geração. Com o livro ‘Da linguagem cuiabana’ destaco tudo isto e fico feliz em participar desse processo, que ainda continua
”.

Você já ouviu falar em camarinha ou em digoreste? Não? Então confira algumas palavras do linguajar cuiabano:

Camarinha = Quarto de dormir
Agora, de que será? = Não pode ser!
Digoreste = Muito bom, legal, da melhor qualidade
Pau rodado = Pessoa de outra cidade que vem para Cuiabá "

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Confira algumas palavras do linguajar cuiabano de A até Z e os seus significados que fazem parte do livro ‘Da linguagem cuiabana’ de Pedro Rocha Jucá:

Adobe............................................Tijolo grande de barro prensado manualmente
Advena..........................................Gente de fora, não é cuiabano
Adufo.............................................Tamborete quadrado, de couro, usado no Cururu
Alcova............................................Quarto do casal
Apatacado....................................Endinheirado, rico
Apear...........................................Desmontar da montaria, descer de um carro, perder regalia
Azular..........................................Sumir
Arca caída....................................Dor na boca do estômago ou nas costelas
Até na Oreia.................................Repleto, cheio, demais
À unha seca..................................Encontrar diamante em cascalho ainda não lavado
Babuja..........................................Doces, balas, guloseimas
Bacurau........................................Caipira
Baguá...........................................Pessoa Valente
Bagueragem.................................Gesto grosseiro, sem educação
Balaio...........................................Cabelo em grande quantidade, despenteado
Bambolê.......................................Chinela de borracha
Beiradear......................................Margear
Bixiguinha....................................Catapora
Boiota...........................................Pessoa abobalhada
Bamboleiar as cadeiras................Balançar as cadeiras, balançar os quadris
Boi de piranha.............................Sacrificado para salvar os demais
Bom demás..................................Muito bom
Caapiá..........................................Vegetal rasteiro. O pó da raiz dá um especial ao guaraná
Cafuçu.........................................Alguém feio
Cachi...........................................Faca que ficou menor depois de muitas vezes amolada
Cambambá..................................Bando, cambada, grupo
Enfarruscado.............................Tempo fechado, nublado, bruscoEnleiar.......................................Enrolar, prender em algo
Enxarquerar...............................FuxicarEmbandeirado com....................Acompanhando alguém, seguindo alguém
É um borra-botas.......................Não vale nada
Está de chico..............................Está mestruada
Famaná..................................Famoso, importanteFoveiro, fouveiro...................Desbotado, quase sem cor
Fuá.........................................Desordem, confusãoFicar fofo de esperar............Esperou demais
Gafeira.................................Coceira em geral
Gatanhar..............................Arranhar, namorar fora do limite
Gordurame..........................Comida, bóiaGirau...................................Mesa improvisada, usada na zona rural
Gente de quem?..................Pertence a qual família?Haveres...............................Bens de fortuna
Hora de Ângelus.................Ato religioso católico, às 18 horas
Imbicar...............................Aportar, chegar
Inhanha..............................Situação dificilInquirir...............................Perguntar
Ioseilá................................Não sei...Ispiaí..................................Olha aí...
Jimbre................................Dinheiro, moeda
Jujo...................................Qualquer planta medicinal
Juntar cisco........................Juntar lixo de pequeno tamanhoJáprecei..............................Já consultei o preço
Ladino................................Esperto, sabido, inteligente, vivoLindeiro.............................Da fronteira, fronteiriço
Lusco-fusco.......................Claro-escuro, meia claridade
Macambúzio......................Tristonho
Madorna............................SonolênciaMichinga...........................Pequena mosca que sobrevoa frutas podres
Nhô....................................Referindo-se a um senhorNo gôto..............................Na parte interna da garganta
Na chincha.........................Quando se faz algo certo, com seriedade
Num vô co cha cara...........Não gostei de você
Obração.............................DiarréiaOpilado.............................Pálido
Pachola.............................Pilantra, almofadinhaPampero...................Briga, confusão, agitação
Panela......................Cárie dental grande
Pastinha...................Franja de cabelo sobre a testa
Pêta.........................Mentira, logro, enganoPau-rodado.............Não nasceu em Cuiabá ou em Mato Grosso
P’ra dedéu..............Para muitos, para sobrar, em abundânciaQuadra...................Época, período, momento
Quizila...................Antipatia, aversão, prevenção, questão social
Quiçaça..................Mata fechada, de difícil acesso
Que nem cachorro de bugre......Não tem onde ficar, sem paradeiroQuem bejô, bejô; quem não bejô, não beja mais......Acabou, terminou. É o fim
Saroba....................Mato muito sujoSiminina.................Essa menina
Taludo....................Grande, forte, crescidoTibi........................Lotado, cheio, completo
Ta empachado......Está com prisão de ventreTirrim, fechou o balaio......Fim de papo. Encerrou tudo.
Uciêza....................Sem-vergonhice, libertinagem
Uma nesga de... ......Um pouco de...
Vasanico..................Baixa no nível do rio em período de chuvaVerve.......................Malícia
Vá tomar mate com garfo.....Não torre a minha paciência
Vôte!........................Rejeição, espanto
Xirimbavo................Serviçal, no sentido pejorativo
Zamboada................Mata difícil de acesso, reunião de gente metida

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